Hiroshige: 東路に筆を残して旅の空

東路に筆を残して旅の空

西のみくにの名所を見む

***

meu pincel no leste

deixo para dar início

à minha jornada

talvez na terra do oeste

veja seus locais famosos

no céu nublado

no céu nublado

pela breve lacuna

a lua cheia

no demais desta noite

nada mais de valor

sobre o silêncio

sobre o silêncio

o sabiá cantando

no meu telhado

por toda a madrugada

meu único consolo

manhã de verão

manhã de verão —

os contornos do seu corpo

surgindo do escuro

amo agora ainda mais

conhecendo com as mãos

as andorinhas

as andorinhas

que chegaram à tarde

na minha rua

eu queria que fossem

as tuas mensageiras

a noite fresca

a noite fresca —

como lençol de seda

cobre o luar

nossos corpos molhados

à beira da piscina

no velho ipê

no velho ipê

há promessa de flores

nos galhos secos

do coração quem dera

a mesma natureza

mar de primavera

mar de primavera —

entre as primeiras estrelas

a lua nascendo

de todo o resto da noite

nada quero e nada espero

do fogo pulsante

do fogo pulsante

que me fez atravessar

a noite gelada

para a próxima só há

esta pouca cinza fria

mar de verão

mar de verão —

o horizonte velado

atrás da chuva

por quantas estações

ainda ficará

a brisa fresca

a brisa fresca —

serenamente o chá

é preparado

meu coração inquieto

como a água que ferve

para contemplar

para contemplar

as flores da cerejeira

há tão poucos dias

que são dias onde há

alguma felicidade

a mariposa

a mariposa

dando voltas e voltas

na luz do teto

há uma que também

não consigo escapar

por mais de uma vida

por mais de uma vida

à correnteza do rio

a pedra resiste

para tanto falta tempo

para o tempo carregar

a luz do ocaso

a luz do ocaso

atravessando o verde

da maré calma

ainda reconheço

quando encontro teus olhos

não mais me fará

não mais me fará

a matéria que me faz

em outros outonos

é mais de mim que meus olhos

a lembrança desta lua

contemplo o céu

contemplo o céu

vagando meu olhar

entre as estrelas

talvez encontre o seu

pousado sobre a lua

uma cartinha

uma cartinha

entregue no presente

de aniversário

em tanto tempo ainda

um resto de perfume

ponho as cobertas

ponho as cobertas 

sobre a cama aguardando

a noite fria

mas nada me protege

da que chega por dentro

cair da noite

cair da noite —

o vento e as andorinhas

vindo do norte

mas será que passaram

pela minha cidade