domingo, 29 de dezembro de 2024
domingo, 22 de dezembro de 2024
sexta-feira, 20 de dezembro de 2024
segunda-feira, 16 de dezembro de 2024
sábado, 14 de dezembro de 2024
sábado, 7 de dezembro de 2024
quinta-feira, 7 de novembro de 2024
terça-feira, 29 de outubro de 2024
a brisa fresca
domingo, 6 de outubro de 2024
sábado, 5 de outubro de 2024
domingo, 29 de setembro de 2024
sexta-feira, 27 de setembro de 2024
quarta-feira, 25 de setembro de 2024
domingo, 22 de setembro de 2024
sábado, 14 de setembro de 2024
domingo, 1 de setembro de 2024
para contemplar
domingo, 25 de agosto de 2024
antes que vire
terça-feira, 20 de agosto de 2024
quarta-feira, 14 de agosto de 2024
domingo, 11 de agosto de 2024
por mais de uma vida
sexta-feira, 9 de agosto de 2024
a luz do ocaso
sábado, 3 de agosto de 2024
não mais me fará
segunda-feira, 29 de julho de 2024
Esta chaga fechou e não mais
domingo, 28 de julho de 2024
quinta-feira, 25 de julho de 2024
juntas em turnos
quarta-feira, 24 de julho de 2024
domingo, 21 de julho de 2024
os gatos sonecam
estirados pelo chão —
tarde de verão
sábado, 20 de julho de 2024
sexta-feira, 19 de julho de 2024
quinta-feira, 18 de julho de 2024
quarta-feira, 17 de julho de 2024
domingo, 14 de julho de 2024
segunda-feira, 8 de julho de 2024
vidro embaçado
domingo, 7 de julho de 2024
Hisajo: 春の夜のねむさ押さえて髪梳けり
domingo, 30 de junho de 2024
sexta-feira, 28 de junho de 2024
sábado, 22 de junho de 2024
quarta-feira, 19 de junho de 2024
CANÇÃO EM SI
sexta-feira, 14 de junho de 2024
AUTORRETRATO II
quinta-feira, 13 de junho de 2024
quarta-feira, 12 de junho de 2024
terça-feira, 11 de junho de 2024
contemplo o céu
segunda-feira, 10 de junho de 2024
CANÇÃO V
sábado, 8 de junho de 2024
quarta-feira, 5 de junho de 2024
segunda-feira, 3 de junho de 2024
Buson: 帛を裂琵琶の流や秋の声
longa viagem
sábado, 1 de junho de 2024
velho edredom
ponho as cobertas
sexta-feira, 31 de maio de 2024
quinta-feira, 30 de maio de 2024
quarta-feira, 29 de maio de 2024
cair da noite
A partida semeia uma distância
segunda-feira, 27 de maio de 2024
sexta-feira, 24 de maio de 2024
e vamos juntos
sábado, 18 de maio de 2024
COLEÇÃO DE CONCHAS
e na sacada
domingo, 12 de maio de 2024
sexta-feira, 10 de maio de 2024
quarta-feira, 8 de maio de 2024
domingo, 5 de maio de 2024
sábado, 4 de maio de 2024
a mariposa
terça-feira, 30 de abril de 2024
quinta-feira, 25 de abril de 2024
segunda-feira, 22 de abril de 2024
domingo, 7 de abril de 2024
AUTORRETRATO
domingo, 31 de março de 2024
sexta-feira, 29 de março de 2024
sexta-feira, 22 de março de 2024
domingo, 17 de março de 2024
quinta-feira, 22 de fevereiro de 2024
segunda-feira, 12 de fevereiro de 2024
sábado, 10 de fevereiro de 2024
sexta-feira, 9 de fevereiro de 2024
NOTAS SOBRE A ESCRITA DE HAICAIS
Introdução
O objetivo central dessas notas é o de tentar
organizar mais claramente (até mesmo para mim) quais decisões tomo ao escrever
haicais. Seguindo esse propósito, elas são, primeiro, um recorte bastante
limitado sobre algumas características do haicai tradicional e, segundo, um
conjunto de considerações sobre como escrevo haicais dentro desse formato mais
tradicional. É provável que eu mesmo vá discordar de algo escrito aqui mais
tarde, mas isso seria verdade independente de quando essas notas fossem escritas.
A parte inicial dessas notas tem o objetivo de ser
uma introdução bastante breve sobre o objetivo, a prática e as características
principais do haicai tradicional. Nisso o que se busca é apenas estabelecer
alguns aspectos básicos sobre o que é o haicai sem explorar cada ponto em
profundidade. Já a segunda parte se trata de um conjunto de considerações sobre
as escolhas que tomo ao escrever haicais seguindo essa linha mais tradicional.
Essas considerações são fruto de minha experiência até aqui e não devem ser
encaradas como a única forma de fazer essas escolhas.
Acredito que exemplos sejam sempre a forma mais
eficiente de apresentar algo e por isso, na medida do possível, coloquei
exemplos para ilustrar cada ponto apresentado.
Princípios e prática do haicai
·
Objetividade e
poesia no haicai
古池や蛙飛びこむ水の音
furu ike ya
kawazu tobikomu
mizu no oto
*
no velho açude —
com o salto da rã
o som da água
Com esses versos, Matsuo Bashō iniciou uma tradição
poética que não só perdura até hoje como também transcendeu sua origem
nipônica. Hoje é possível encontrar haicais sendo escritos em, provavelmente,
qualquer língua e há até mesmo revistas especializadas em diversas delas.
O primeiro impulso de alguém acostumado com a
tradição ocidental, muito mais lírica, é buscar alguma metáfora nos versos de
Bashō, a qual daria algum sentido mais profundo ao haicai. Não há. Muito pelo
contrário, esse haicai se propõe apenas a dizer aquilo que está escrito: uma rã
pulou no açude e produziu um som na água. Nem a rã ou o açude ou a água ou o
som querem dizer nada além do que está escrito. "Mas onde está a poesia
então?", alguém pergunta. Está na forma de justapor esses elementos. Assim
como na fotografia, o haicai é objetivo por princípio, mas a forma de
apresentar elementos objetivos faz diferença (e é onde os elementos subjetivos
são transmitidos). Na fotografia, a escolha na disposição dos elementos
objetivos se dá pela escolha de ângulo, iluminação, foco, composição, etc... De
forma análoga, justapor os elementos objetivos no haicai requer diversas
escolhas e é no conjunto dessas escolhas que está a poesia.
·
Momento
haicaístico e o propósito do haicai
O frio numa manhã de inverno, uma flor
desabrochando, o pôr do sol, a lua cheia, o barulho da chuva, o som das buzinas
numa avenida engarrafada, etc. são eventos que nos dão impressões sensoriais e
também alguma experiência emocional. Sempre que um evento (ou a conjunção de
eventos) despertar uma clara e contemplativa experiência sensorial e emocional
ligada a ele, esse é um momento haicaístico e o haicai será um registro desse
momento.
Assim, embora o conteúdo escrito do haicai
deva ser inteiramente objetivo, o propósito do haicai é transmitir uma
experiência subjetiva: a experiência sensorial e emocional do momento
haicaístico. A arte de escrever haicais é a de conseguir transmitir pelo menos
uma parte dessa experiência. No entanto no haicai não cabe descrever a
experiência subjetiva, como, por exemplo, dizer que se sente triste ou feliz ao
contemplar a lua, e sim dispor os elementos objetivos que causaram essa
experiência de forma que as sensações e emoções sejam sugeridas. Todos os
detalhes técnicos e formais do haicai, os quais ligados às características
poéticas dele, são justamente sobre encontrar as maneiras mais eficientes de
realizar essa tarefa. Fazendo uma simplificação grosseira, a dimensão objetiva
é transmitida pelo conteúdo escrito enquanto a subjetiva é transmitida pela
forma.
Nos haicais (traduzidos) a seguir seguem algumas
interpretações sobre quais sensações e emoções eles tentam transmitir.
por este caminho
onde ninguém passa mais —
ocaso de outono
Bashō
Aqui há uma clara sensação de solidão enquanto
Bashō está em uma de suas peregrinações ao longo do Japão. O último verso,
“ocaso de outono”, embora de forma não totalmente trazida na tradução, enfatiza
ainda mais o tom melancólico desse haicai.
vento de outono
circula na montanha —
o som dos sinos
Chiyo-ni
De imediato, a sensação transmitida é a do som de
sinos balançados pelo vento, enfatizando ainda mais a presença desse. Mas, além
disso, para Chiyo-ni, enquanto monja budista, o som dos sinos pode ter tido
mais significados, já que, dentre outras funções, sinos são usados como um
chamado para a meditação nos templos.
da machadada
aroma inesperado —
pinheiro seco
Buson
O aroma exalado pela árvore (o original não
especifica que era um pinheiro) ao ser golpeada pelo machado deve ter sido mais
intenso do que Buson esperava. Ainda mais para uma árvore que já estava seca. O
haicai tenta ao menos transmitir a ideia dessa sensação olfativa inesperada.
Talvez até mesmo fazer com que se consiga imaginar o aroma.
ondulações
sob a lua que nasce —
capim-dos-pampas
Shiki
Aqui Shiki está apresentando um cenário onde se tem
o capim-dos-pampas balançando por conta de alguma brisa enquanto é iluminado
pela lua. O capim-dos-pampas, por ser branco, deve se destacar bem ao luar e o
haicai tenta transmitir um pouco da beleza desse cenário.
·
Praticando o
haicai
Como já dito, o haicai vem de uma impressão
sensorial e emocional, porém tal tipo de experiência vem da observação mais
atenta das coisas ao redor. Inicialmente é necessário tomar a iniciativa de
prestar mais atenção aos acontecimentos, os quais poderão resultar na escrita
de haicais, mas logo essa prática se torna um hábito e o haicai é, antes de
tudo, um hábito.
Quanto à escrita do haicai propriamente dita, há
quem diga que o haicai deve ser escrito durante o momento haicaístico, mas
nenhum dos grandes mestres adotava essa prática. Pelo contrário, costumavam
inclusive reescrever haicais anos depois de sua primeira versão. Ou seja, o
haicai, para ser "autêntico", não necessariamente precisa ser escrito
no momento em que ele é inspirado. Basta um rascunho ou até mesmo só um
lembrete; o trabalho de lapidar pode ser deixado para mais tarde.
O haicai tradicional
O haicai tradicional possui várias características
formais que vão além da métrica e número de versos. Abaixo estão listadas as
principais delas e suas adaptações para o português.
·
Título
Não tem.
·
Rima
Rima não é um recurso muito comum em japonês e
raramente aparece em haicais. Não há, portanto, necessidade de rimas no haicai
e alguns dirão até mesmo que elas devem ser evitadas (eu incluso). Mas rimas
internas, aliterações e assonâncias possuem respaldo na forma tradicional do
haicai e podem ser uma ferramenta valiosa, pois a repetição de sons pode ser
muito efetiva em transmitir alguma sensação. Por exemplo, no haicai de Bashō
"kare eda ni/ karasu no tomarikeri/ aki no kure", a repetição do
fonema "k" evoca um pouco o canto do corvo (karasu).
·
Métrica
Em japonês o haicai tradicionalmente é escrito
seguindo o esquema métrico 5-7-5, mas a língua japonesa conta sons de maneira
inteiramente diferente de como fazemos em português e isso se deve às
particularidades do idioma japonês que não podem ser trazidas para o português.
Sendo assim, toda adaptação do esquema métrico japonês estará
"errada" de certa forma. O que é feito mais comumente aqui no Brasil
é simplesmente seguir o esquema 5-7-5, mas considerando sílabas métricas.
Porém, o verso do haicai deve ser conciso e muitas vezes o esquema 5-7-5 tem
"espaço demais", o que acaba levando à introdução de palavras
supérfluas na composição.
Como o esquema 5-7-5 é longo demais na maioria das
vezes, alguns têm proposto que o mais adequado seria adotar o esquema 4-6-4 e,
de fato, minha experiência é a de que esse esquema métrico funciona muito bem
na maioria dos casos. No entanto há expressões e palavras que se encaixam
perfeitamente em 5-7-5 e se restringir ao esquema 4-6-4 pode acabar eliminando
essas expressões do repertório (ou forçar a fazer uso menos eficiente delas).
Vamos pegar um exemplo: chuva de verão. Há cinco sílabas poéticas nessa expressão,
a qual é perfeita para a composição de haicais, pois é um kigo de verão
(discutido mais adiante) e também muito bem incorporada no linguajar cotidiano.
O uso estrito do esquema 4-6-4 levaria a empregar essa expressão apenas no
segundo verso, o que alguns experimentos logo mostrarão ser um uso difícil e
desajustado.
Considero que a sensação de brevidade e concisão no
haicai seja o que realmente importa e ambos os esquemas métricos podem alcançar
esse efeito de forma muito parecida. Nos haicais abaixo, por exemplo, o
primeiro possui esquema 4-6-4 e o segundo 5-7-5, porém essa diferença quase não
se percebe durante a leitura.
porta de vidro —
assisto à mariposa
pousar na lua
*
chuva de verão —
um morro de cada vez
desaparecendo
Ambos os esquemas, a meu ver, podem conviver como
opções na escrita de haicais.
·
Kireji
O haicai tradicional não é uma sentença dividida em
três partes. Há sempre um corte que separa o haicai em dois pedaços (geralmente
entre o primeiro e segundo verso ou entre o segundo e terceiro verso). Esse
corte (kire) é fundamental para o efeito poético do haicai, pois é a partir
dele que e é deixada para leitor a tarefa de fazer a relação entre os elementos
justapostos.
Em japonês esse corte é feito através de palavras
específicas, tais como ya, yo, zo, nu, kana, keri ..., as quais chamadas, no
contexto do haicai, de palavras de corte (kireji). Essas palavras na verdade
funcionam como tipos específicos de pontuação e nem sempre possuem algum
correspondente imediato em nosso idioma. A adaptação feita em português foi o
uso de diversas pontuações (".", "!", ":",
";", "...", "—", etc...) para realizar essa
separação. Não há nenhuma regra sobre quais pontuações são mais adequadas para
realizar o corte e isso dependem muito do gosto de cada haicaísta. Nos exemplos
abaixo, o uso do travessão é uma preferência minha (por considerar ser uma
opção mais neutra e versátil), mas outra pontuação poderia ser posta no lugar.
o fino chuvisco
umedecendo o canteiro —
caracóis no muro
*
uma garça pesca
na beira do mar estático —
círculos na água
*
vento nordeste —
uma sombra de nuvem
sobe no morro
Note que a conexão entre as duas partes não é explicada
no haicai, mas pode ser inferida. Essa justaposição de imagens ou eventos, a
meu ver, é o principal aspecto que contribui para o efeito poético do haicai.
·
Kigo
A cerejeira floresce na primavera e o crisântemo no
outono. Pelo menos é assim no Japão e um haicai que contenha cerejeira (sakura)
será classificado como de primavera enquanto um haicai mencionando crisântemo
(kiku) será classificado como de outono. "Cerejeira" e
"crisântemo" são exemplos de kigo (palavras de estação). Essas
palavras (ou expressões) fazem com que a estação do ano esteja sempre implícita
ou explicitamente presente no haicai tradicional e é um de seus componentes
fundamentais. Há quem considere até mesmo indispensável para classificar um
poema como realmente sendo um haicai. Abaixo seguem algumas traduções como
exemplos, onde os kigo são destacados em negrito.
encosta na linha
de uma vara de pesca —
lua de verão
Chiyo-ni
*
gela meus lábios
quando tento falar —
vento de outono
Bashō
*
e quem sabe seja
o meu último endereço —
dois metros na neve
Issa
*
desde o sol no oeste
até a lua no leste —
flores de canola
Buson
Neste último haicai, "flores de canola" é
um kigo de primavera.
O kigo é uma forma de tanto enfatizar a presença de elementos naturais no haicai como também a transitoriedade do momento relatado. Assim como todas as características de uma estação vêm e vão com a passagem dela, o momento relatado no haicai também vem e se vai.
O recurso do kigo, porém, exige uma classificação
da fauna, flora, clima e até festividades de acordo com a estação do ano e,
embora isso tenha sido de fato feito no Japão, a mesma tarefa foi feita de
forma ainda muito limitada no Brasil (a única obra nesse sentido ainda é
“Natureza - Berço do Haicai” de Masuda Goga e Teruko Oda). Isso torna o emprego
do kigo num haicai brasileiro ainda um pouco difícil e limitado.
Existem kigo óbvios como "chuva de verão"
(o qual já apareceu num haicai acima), mas o Brasil é enorme e possui
diferenças notáveis de fauna, flora e clima. A tarefa de catalogar os kigo para
todo o Brasil é impossível desde o princípio; seria pelo menos necessário
subdividir em regiões com mais homogeneidade nesses aspetos para, então, tentar
fazer uma catalogação.
O kigo, no entanto, permite criar um efeito poético que é próprio do haicai. Isso não só por conta de contextualizar o haicai em alguma estação do ano, mas também pela intertextualidade que ele proporciona. Por exemplo, há centenas de haicais com "chuva de verão" e isso cria uma relação entre eles: todos eles são sobre situações presenciadas diante desse mesmo fenômeno meteorológico. Uma vez que se comece a ler haicais, a recorrência dos kigo se torna evidente e haicais com um mesmo kigo acabam se comunicando.
Técnica
O que exporei aqui não deve ser visto como algum
conjunto de regras e imagino que muitos haicaístas irão discordar em alguns
pontos (ou vários). No entanto é um conjunto de direcionamentos básicos que
acabei desenvolvendo e utilizo ao tentar compor meus haicais. Talvez sejam
úteis para mais alguém mesmo que discordando de minhas preferências. Ao menos
pode ajudar alguém a ter mais consciência sobre essas escolhas e, assim, ser
capaz de fazê-las de forma intencional ao tentar potencializar a efetividade do
haicai em transmitir as sensações e emoções pretendidas.
Devo salientar que o conjunto de direcionamentos
apresentados não são todas as considerações que faço ao escrever haicais. Porém
as demais considerações caem em duas categorias: as que são particulares de
cada haicai e as que não sei ainda uma maneira de expressar de forma
generalizada.
·
Composição de
cenário
A dama-da-noite desabrochou numa noite de lua cheia
e atraiu uma mariposa com seu perfume. Há vários elementos neste cenário que
acabei de colocar e sequer há espaço no haicai para incluir todos eles. Ao
contrário do que normalmente acontece com outras formas de poemas, onde a
dificuldade principal está em criar (cenários, metáforas, etc.), no haicai a
dificuldade está em subtrair. Deve-se escolher dois ou três elementos do
cenário e focar neles. Por mais que pareça haver uma perda nesse processo, ele
é necessário, pois um haicai que tente acomodar elementos demais de um cenário
não conseguirá fazer com que nenhum deles tenha o devido peso para transmitir
aquilo que se pretende. Ou seja, no cenário que apresentei, para escrever um
haicai, se deve selecionar quais elementos focar e desenvolver em torno deles.
Uma possibilidade seria focar na flor e na lua, deixando o resto de fora. Um
exemplo de haicai com esse foco seria
no branco das pétalas
da flor da dama-da-noite —
lua de verão
Se poderia também escolher a flor e a mariposa,
donde um haicai possível é
a mariposa
aceitou o convite —
dama-da-noite
De certa forma, neste último, o perfume também está
presente no cenário, porém de forma implícita.
Em suma, assim como numa boa fotografia, o haicai
deve ter poucos elementos (dois ou três) onde concentrar a atenção. Essa
escolha dos elementos é a primeira parte na escrita propriamente dita do haicai
e, às vezes, a mais difícil. Após se fazer essa escolha, o trabalho se torna o
de encontrar a melhor forma de dispor eles a fim de transmitir as sensações e
emoções pretendidas.
·
Métrica e ritmo
Acima já disse que considero tanto o esquema
métrico 4-6-4 como o 5-7-5 boas opções ao adaptar a forma do haicai tradicional
e não há muito mais a acrescentar sobre isso. É de minha preferência escrever
dentro desses dois esquemas porque a regularidade na métrica permite
estabelecer mais facilmente um ritmo, o qual para mim é uma das partes
fundamentais do haicai enquanto forma poética.
Dentro da questão do ritmo, no entanto, há alguns
detalhes que levo em consideração e talvez seja relevante falar. Dependendo se
o esquema é 4-6-4 ou 5-7-5, as considerações são ligeiramente diferentes, então
vamos começar com o esquema 4-6-4.
4-6-4:
Considerando primeiro o verso do meio, de seis
sílabas métricas, tento evitar duas situações: ter mais de duas sílabas tônicas
e começar o verso com uma sílaba tônica. Além disso, a primeira sílaba tônica
no verso deve ser preferencialmente a segunda ou a terceira (com menos
preferência). Evito que seja a quarta e nunca deve ser a quinta. No exemplo
abaixo, tanto há três sílabas tônicas no segundo verso (em negrito) como também
ele começa com uma. Embora tenha sido a melhor solução que encontrei para esse
haicai em particular, é perceptível que o ritmo sofre um pouco. Com sete
sílabas, uma solução melhor surgiria: "somente a estrela da tarde",
mas tentar reescrever o haicai no esquema 5-7-5 acabaria piorando os outros
dois versos.
tanabata —
só a estrela
da tarde
compareceu
Sobre os versos de quatro sílabas, há
essencialmente três opções: começar ambos com sílabas tônicas, começar um deles
com sílaba tônica e não começar nenhum deles com sílaba tônica. A segunda opção
é a que considero ser a melhor na maioria dos casos, sendo que o verso separado
pelo corte tem preferência em começar com uma sílaba tônica, pois isso o
destaca e enfatiza o corte (especialmente se for o último verso). A primeira
opção também considero muito boa, mas tenho uma preferência pela segunda. Já a
terceira opção, a meu ver, é a mais difícil de gerar um resultado satisfatório
e geralmente será a opção subótima em relação às outras duas.
Nos exemplos abaixo, as sílabas tônicas estão em
negrito. Conforme dito, considero a segunda opção a melhor em termos de ritmo e
a terceira a mais difícil de ter um efeito ótimo.
Primeira opção:
vento nordeste
—
uma sombra de nuvem
sobe no morro
*
resto de sol
espalhado no céu —
nuvens esparsas
Segunda opção:
porta de vidro
—
assisto à mariposa
pousar na lua
*
densa folhagem
—
do alvoroço das aves
somente o som
Note que o ritmo ficaria um pouco pior se o
primeiro verso fosse "folhagem densa".
*
sinal vermelho
sem luz para avisar —
ninhos de barro
*
um breve instante
de mar iluminado —
noite chuvosa
Terceira opção:
a calmaria —
um v de mergulhões
também no mar
*
dependurado
atrás do sushiman —
o monte fuji
Embora tenha dito que considero a terceira opção a
menos atrativa, os dois exemplos acima são haicais que gosto. Ritmo é um dos
fatores que influenciam o efeito geral do haicai, mas está longe de ser o
único. Há vezes em que uma pequena mudança sem alterar o sentido do haicai
melhora o ritmo (como no caso da troca de "folhagem densa" por
"densa folhagem" logo acima), mas há casos em que isso não é possível
de ser feito e os outros fatores podem ter um peso maior. Buscar melhorar o
ritmo é bom, mas não se deve forçar ele.
5-7-5:
Por questões de concisão nos versos do haicai,
tenho preferência pelo esquema 4-6-4 em vez do 5-7-5 na grande maioria das
vezes, mas o esquema 5-7-5 não só foi a forma adotada inicialmente por autores
brasileiros (como Guilherme de Almeida) como também foi a forma adotada por
imigrantes e descendentes de imigrantes japoneses. Ou seja, é a adaptação mais
"oficial" e é raro encontrar alguma referência onde o esquema 4-6-4
seja ao menos mencionado.
As considerações que tenho para fazer são
semelhantes às que fiz para o esquema 4-6-4, mas há um pouco mais de variedade.
Sobre o verso do meio, de sete sílabas métricas, se
torna ainda mais importante evitar que se comece com uma sílaba tônica.
Certamente o ritmo ficará desajeitado com o verso começando com ela.
Preferencialmente a primeira sílaba tônica deve ser ou a segunda ou a terceira,
de forma semelhante ao caso do esquema 4-6-4. Porém, diferentemente do esquema
4-6-4, não é problemático que o verso do meio aqui tenha três sílabas tônicas e
considero os ritmos 2,4,7 e 2,5,7 igualmente bons. No caso de haver apenas duas
sílabas tônicas o ritmo preferencial se torna o 3,7.
Para os versos de cinco sílabas métricas deve-se
evitar que haja três sílabas tônicas, mas um ritmo 1,3,5 pode funcionar. Além
disso, tanto os ritmos 1,5, o 2,5 ou o
3,5 funcionam em diversos casos, mas com a ressalva de que, se um dos versos
tem ritmo 3,5, o outro não deve repetir. Pela mesma razão já expressa no caso
anterior (esquema 4-6-4), o ritmo 1,5 é particularmente bom para o verso
separado pelo corte. Abaixo seguem alguns exemplos onde considero que os ritmos
ficaram satisfatórios.
névoa da manhã
—
sol diluto no contínuo
entre céu e mar
*
tão logo no asfalto
logo voltam a voar —
folhas amarelas
*
a noite realça
o palácio iluminado —
silêncio e fumaça
*
céu da madrugada
—
somente a janela acesa
no prédio vizinho
Uma última consideração sobre ritmo, é evitar duas
silabas tônicas consecutivas independente do verso.
·
Adjetivos
Quando se usa algum adjetivo num haicai, se deve
sempre fazer a pergunta "o quanto isso acrescenta para o cenário?".
Se o adjetivo for redundante ou acrescentar pouco, provavelmente apenas se está
estendendo uma descrição além do necessário.
Por exemplo, ao escrever "o mar azul", o
quanto esse "azul" acrescenta ao cenário? A não ser que no haicai
essa cor seja contrastada com outra (pode ser com o vermelho de algum navio,
por exemplo), provavelmente está trazendo pouca informação a mais, pois o mar
normalmente é imaginado como azul.
Um problema um pouco diferente acontece quando se
usa mais de um adjetivo para o mesmo substantivo, por mais que eles sejam
relevantes. Em "o mar cinza e turbulento" os dois adjetivos estão
acrescentando algo sobre o mar, mas é uma descrição longa para os padrões de um
haicai. Nesse caso, como o mar turbulento normalmente é acinzentado, se poderia
omitir o "cinza" na descrição sem grandes perdas, mas,
independentemente disso, a busca de alternativas que evitem a dupla adjetivação
geralmente é o melhor caminho.
Agora, indo além do uso adjetivos para descrições
objetivas, há também casos onde o adjetivo introduz algum elemento subjetivo, o
qual deveria ficar fora do haicai (pelo menos da parte escrita). Por exemplo,
se se escreve o verso "a bela rosa", o "bela" acrescenta
uma impressão subjetiva sobre a rosa e isso não cabe no haicai. Se a rosa é
bela, a rosa sozinha é suficiente para transmitir essa informação. A impressão
subjetiva deve apenas ser sugerida. Assim, ao invés de escrever
manhã de sol —
no jardim desabrocha
a bela rosa
se poderia escrever
manhã de sol —
a rosa no jardim
desabrochando
Há, no entanto, aparentes exceções que até mesmo
são kigo. Por exemplo, "noite gelada" é um kigo de inverno e
"gelada", a princípio, é uma sensação subjetiva. Porém, esse
"gelada" é objetivo o suficiente no sentido de que, para quase todos
os seres humanos, a temperatura experimentada é baixa demais. Com isso se
poderia retrucar que, no exemplo acima sobre a "a bela rosa", a rosa
também é bela para quase todos os seres humanos e seria objetivo o suficiente
acrescentar esse adjetivo. Entretanto, se esse é o caso, "bela" é
redundante e a rosa sozinha basta.
Na mesma linha de acrescentar elementos subjetivos,
também temos adjetivações que criam metáforas, como "lua
melancólica", "céu flamejante", "noite opressiva",
etc... Fazer associações dessa forma é comum em gêneros mais líricos, mas é
desajeitado no haicai. Conforme já enfatizado, o haicai busca ser objetivo no
conteúdo escrito. As impressões e associações mais subjetivas devem ser
deixadas como sugestões através da forma com que se dispõe os elementos
objetivos.
·
Verbos
Um haicai é sobre o momento presente e a primeira
observação a ser feita é que, via de regra, os verbos devem ser conjugados no
presente. Há situações onde conjugações no passado ou futuro (raro) podem fazer
sentido, mas sempre se deve ter em mente que o tempo no haicai é o presente e,
independente do acontecimento ter começado no passado ou estar se projetando
para alguma conclusão, o que está escrito deve se referir ao acontecimento
enquanto está acontecendo.
Fora essa consideração mais geral e básica, há
algumas outras que são pertinentes também. Um haicai com múltiplas ações
(verbos) dificilmente irá funcionar da forma pretendida, pois tenta dar atenção
a acontecimentos demais (isso faz parte da escolha de cenário). Um ou dois
verbos (e às vezes nenhum) costuma ser número ideal de verbos. Isso pode ser
observado nos exemplos já apresentados de haicais.
Além disso, há ações que podem ser implicadas sem
realmente estarem escritas. Por exemplo, em
o som da chuva
cessando — do silêncio
a corruíra
está implícito que se trata do canto da corruíra.
Algo semelhante ocorre em
tarde de chuva —
também para o bueiro
flores de hibisco
onde é implicado que as flores de hibisco estão
indo para o bueiro. Deixar alguma ação implícita pode ser uma das ferramentas a
serem utilizadas para atingir o efeito poético desejado.
·
Kigo
Atualmente a única kigologia que temos no Brasil
ainda é "Natureza - Berço do haicai" de Masuda Goga e Teruko Oda, conforme
já mencionado, e ela é limitada mesmo se considerarmos apenas as regiões sul e
sudeste. Isso dificulta o emprego do kigo em haicais brasileiros. Porém, apesar
disso, na medida que há a oportunidade, sempre dou preferência para o uso de um
kigo. No entanto também considero palavras e expressões que, embora não tenham
sido catalogadas, claramente deveriam figurar como kigo. Por exemplo, hibisco é
uma flor que não está catalogada na referida kigologia, mas deveria ser um kigo
de primavera ou verão.
A lista apresentada em "Natureza - Berço do
haicai" pode ser um bom guia para o emprego do kigo, mas, na medida que
algo tenha presença mais clara numa estação, pode-se considerar esse algo um
kigo mesmo não estando ainda na lista. Alguém no futuro pode se dar ao trabalho
de juntar os novos kigo desses haicais e organizar numa kigologia.
Além disso, como já dito, o kigo não apenas situa o haicai em uma estação do ano, mas também cria uma intertextualidade entre haicais que utilizam esse mesmo kigo. Esse é um efeito poético próprio do haicai que sempre vale a pena tentar explorar.
·
Concisão
Algo que já deve ter ficado claro até aqui é que toda
palavra que nada acrescenta ou pouco acrescenta ao sentido do haicai deve ser
dispensada. Ao menos assim vejo e tento escrever tendo isso em mente, afinal, a
concisão é um fator importante no haicai.
Escrevendo ou não dentro de um esquema métrico, o
verso do haicai não deve ser curto apenas de acordo com a contagem de sílabas
métricas, mas deve também dar a sensação de ser curto durante a leitura.
Tomemos como exemplo disso uma tradução diferente que fiz do "haicai da
rã" e comparar com a tradução de outro haicai de Bashō utilizando o mesmo
esquema métrico.
uma rã que salta
na beira do velho açude —
breve som da água
*
corvo que repousa
sobre o galho ressequido —
ocaso de outono
Na primeira tradução as palavras "beira"
e "breve" sequer possuem correspondência no original e também pouco
acrescentam ao sentido do haicai. São palavras supérfluas e estão ali quase que
apenas completando a métrica. Na segunda, no entanto, não é possível subtrair
alguma palavra sem também subtrair algo relevante no sentido do haicai. Ambas
as traduções possuem esquema métrico 5-7-5, mas a segunda é concisa enquanto a
primeira não a é.
Além disso, na primeira tradução o segundo e
terceiro versos possuem três sílabas (poéticas) tônicas, o que contribui para a
sensação de que são mais longos do que os correspondentes dois últimos versos
na segunda tradução, onde só há, em cada verso, duas sílabas tônicas. Não
necessariamente a contagem de sílabas tônicas decidirá se o verso parece mais
ou menos longo, mas é um indicativo.
Porém as palavras "beira" e
"breve" talvez ainda sejam as principais razões para esses dois
últimos versos na primeira tradução parecerem mais longos. Não apenas por
acrescentarem sílabas métricas (e tônicas), mas por alongarem as descrições dos
elementos principais, "velho açude" e "som da água",
acrescentando detalhes (desnecessários) ao cenário.
Tendo essas considerações em mente, é um bom
exercício, após rascunhar o haicai, tentar tirar algumas palavras e verificar
se o sentido ainda se mantém. Às vezes algum artigo ou adjetivo é dispensável.
Também às vezes o haicai fica muito melhor quando se tira algum conectivo e se
realiza o corte (kire).
·
Justaposição
Conforme já mencionado, o haicai tradicional possui
um corte, uma separação, e muito de seu efeito poético vem da justaposição
entre as partes separadas. Sempre busco manter esse elemento e, de acordo com
minha experiência, a versão de um haicai mantendo um corte claro costuma ser
melhor que a versão onde o corte não está presente.
No entanto, embora o haicai não deva ser
explicativo, tampouco pode ser obscuro ou enigmático. Longe disso, o haicai é
uma impressão objetiva de algum evento ou cenário, não uma charada. Dado que há
esse corte e que o leitor deve "conectar os pontos", alguém pode
questionar "E se o leitor não conectar os pontos?" Isso é
perfeitamente possível de acontecer por diversas razões e pode ou não ser um
problema do haicai, mas se deve ter em mente que esse é um risco necessário,
pois, mesmo que apenas uma fração dos leitores consiga "conectar os
pontos", essa fração poderá ter algum acesso ao momento haicaístico que
deu origem ao haicai, enquanto, com um haicai explicativo, que sequer será
haicai, ninguém terá tal experiência. O desafio, portanto, é evitar que a
conexão seja sutil demais, ao ponto de ninguém (ou quase ninguém) conseguir
decifrar, e, ao mesmo tempo, evitar que a conexão seja tão direta que o efeito
da justaposição dos elementos se perca. Muito da arte de escrever haicais está
na busca do ponto ótimo entre esses dois extremos em cada haicai. Não há método
exato para essa busca.
Os haicais a seguir estão em ordem crescente de
"distanciamento" entre as partes separadas pelo travessão. O segundo
é o que considero ter chegado mais próximo de um ponto ótimo.
cai da tarrafa
e corre para o mar —
siri-azul
A parte separada no último verso apenas responde o
que caiu da tarrafa: o siri-azul. A relação é bastante direta, mas ainda assim
a separação faz o efeito ser melhor do que seria ao escrever "o siri-azul/
cai da tarrafa/ e corre para o mar".
o meu cardápio
no outro lado da praça —
vento de outono
Aqui a conexão é um pouco menos direta que no caso
anterior. É inferível que a razão do cardápio estar no outro lado da praça seja
por causa do vento, mas isso não é explicitamente dito e é o fato de não estar
explicitamente dito que possibilita esse haicai ter algum efeito poético.
Qualquer versão onde a conexão ficasse explícita reduziria o haicai a uma
descrição banal de um evento pouco interessante.
a mariposa
aceitou o convite —
dama-da-noite
Esse é um caso onde a conexão se dá por conta de
algum conhecimento mais específico. Mariposas são polinizadoras da
dama-da-noite e o perfume dessa flor justamente tenta atrair elas. Ainda tenho
dúvidas se esse haicai foi bem-sucedido. Talvez tenha passado do ponto ótimo e
ido para o lado do "obscuro".
a garça pesca
na beira da lagoa —
céu estrelado
Não há nenhuma relação causal entre as duas partes
do haicai. Se trata da justaposição de dois elementos que compõem um cenário.
Particularmente considero esse tipo de haicai o mais difícil de "fazer
funcionar".
·
Corte deslocado
Normalmente o corte do haicai é feito entre o
primeiro e segundo verso ou entre o segundo e o terceiro. Porém há exemplos de
haicais onde o corte é realizado no meio do segundo verso e isso pode ser usado
para criar tensão ou fazer uma transição mais dinâmica entre dois eventos. Por
exemplo, no haicai de Chiyo-ni
som de cachoeira
atenuando — no topo
canto da cigarra
o corte no meio do segundo verso cria uma transição
dinâmica entre o som da cachoeira ficando mais fraco e o canto da cigarra, que
pode ser escutado no topo. Fica claro que se está seguindo um caminho indo para
o topo da cachoeira sem que isso seja explicitamente dito.
Utilizando-se exatamente da mesma técnica, escrevi
o haicai
nuvens na serra
avermelhando — um grilo
outro e mais outro
onde fica claro que os grilos estão começando a
cantar à medida que anoitece. Note também que está implícito o fato de se
tratar do canto dos grilos.
Normalmente essa não é a melhor forma de escrever
um haicai e é difícil de fazer funcionar. Porém pode ser a técnica adequada nas
situações em que, no haicai, se pretende realizar a transição entre dois
eventos.
Conclusão
Conforme dito logo no início, a poesia do haicai
vem do conjunto de escolhas feitas ao dispor elementos objetivos de um cenário
a fim de transmitir sensações e emoções. O objetivo dessas notas era expor como
faço parte dessas escolhas, ou seja, apresentar de forma mais organizada como
lido com algumas das características do haicai tradicional e também quais
aspectos valorizo mais na hora de escrever.
Porém algo que fica muito claro ao tentar seguir
esses direcionamentos é que há vezes em que alguns deles podem ser conflitantes
ou insuficientes. Em especial, nem sempre é fácil encaixar o ritmo do verso
como se gostaria. Nisso entram considerações de custo-benefício que não tenho
(pelo menos não ainda) um método explícito de como fazer. Assim, o que foi
apresentado é o conjunto de diretrizes básicas (no sentido literal de ser a
base), mas muitas vezes há ajustes mais finos a serem feitos num haicai para realmente
alcançar sua melhor forma.