sexta-feira, 2 de maio de 2025

sala de espera

Com película antirreflexo descascando, já não havia como postergar minha ida à oftalmologista. Estes óculos que me acompanharam por mais de cinco anos. Estava com eles quando me tornei doutor e voltei à minha cidade natal, quando me mudei mais uma vez e virei professor, quando noivei e, então, me separei. Ainda tocava violino quando os tive em meu rosto pela primeira vez, mas já não lembro quando parei de tocar, assim como não sei localizar no tempo tantas outras memórias e o que foi esquecido entre elas.

sala de espera 
relembro com os dedos
uma partita

quinta-feira, 1 de maio de 2025

tantas goiabas

Desde o falecimento da proprietária, sinais de abandono medram pela casa e seu quintal. O mato já tomou cada centímetro quadrado de solo exposto e nos vasos crescem muito além das plantas inicialmente pretendidas. Maria-bolas disputam espaço no telhado e sobrepõem teias que vão desde o beiral até o varal de roupas há muito vazio. Mesmo no cimento, que reveste a maior parte do chão, o verde se manifesta, seja como limo, seja como samambaias nas rachaduras. Ao centro, uma goiabeira continua a crescer.

tantas goiabas
apodrecem no chão 
tarde de outono

domingo, 27 de abril de 2025

domingo, 20 de abril de 2025

há manhãs em que a existência

há manhãs em que a existência
não nos alcança
                     o sol não chega
                     e o bem-te-vi não canta
há manhãs em que o vazio
não é de espaço
                     é tempo constante
                     sem pulso marcado
há manhãs que exigem
o esforço impossível da criação
                     para haver chão
                     e mais um passo

sexta-feira, 18 de abril de 2025

quarta-feira, 9 de abril de 2025

terça-feira, 1 de abril de 2025